terça-feira, 7 de abril de 2015

Porque eu quero ser vegetariana?


Sim, é isso mesmo: eu não sou vegetariana e talvez eu nunca seja, mas gostaria de ser.

Deixe eu me explicar melhor. Eu amo comer carne. Eu amo linguiça (calabresa, paio, tradicional, frita, cozida no feijão ou assada) e amo frango (assado, com farofa, huum!). Sou uma carnívora, eu admito. Esse é motivo pelo qual não sei se eu conseguiria ser vegana. Não serei hipócrita, portanto, de tentar convencer você, leitor, de que ser vegetariano é certo ou errado, ou que é melhor caminho, ou ainda que de abstendo-se de carne você encontrará a paz interior (?) ou poderá sofrer graves consequências por não consumir proteína animal, não nada disso. Eu só gostaria de expor um ponto de vista. Quase um desabafo na verdade, sobre algumas coisas que estão me incomodando sobre esse negócio de comer carne.


Frutas!
Imagem por Água Doce.


Então, vamos lá, por que você quer ser vegetariana?

Pois é, tudo começou quando eu li um livro: Sob a Pele, de Michel Faber (2000). Sob a Pele foi citado por alguém como “a Revolução dos Bichos do século XXI”. Se você, assim como eu, ainda não leu a Revolução dos Bichos, eu vou lhe adiantar que, segundo meu marido, é uma história sobre a rebeldia dos animais de uma fazenda contra os homens. Já o Sob a Pele, é sobre membros machos de nossa espécie serem capturados, mantidos em cativeiro, castrados, mudos, engordados, abatidos e depois, comercializados como iguaria (qualquer semelhança com realidade é mera coincidência) em algum lugar subterrâneo, onde os consumidores são de uma espécie diferente da nossa, mas igualmente inteligentes e organizados.

Livro Sob a Pele, de Michel Faber.
Imagem por Skoob.

No começo, eu li o livro tentando não me impressionar com o que Faber queria dizer com essa história maluca. Até que uma espécie de príncipe dessa espécie vai até a fazenda para conhecer o local onde ficam esses “animais” de carne tão apreciada por sua raça. A personagem principal, que era responsável por caçar os machos humanos, explica para ele que nós não temos linguagem, não temos consciência, embora um homem tenha desenhado na palha do seu cativeiro a palavra “Clemência”.

Ela teve que aprender nossa linguagem, passar por modificações cirúrgicas para ficar com nossa aparência física e se vestir como nós, se misturar conosco nos atrair, nos capturar e nos entregar na fazenda e depois de tudo, ainda mentir para o '"cara importante" de sua espécie, que nós eramos seres sem inteligência ou discernimento, porque ele não concordava com a matança, mas ela precisava do emprego. Aliás, ela também não concordava com o que tinha que fazer, mas não podia voltar para o seu povo daquele jeito, tão deformada e animalesca, tinha que continuar aqui junto dos humanos, nos caçando. Era seu único caminho.

Eu comecei a pensar. Comecei a me incomodar. Se olharmos pelo ponto de vista que Michel Faber nos dá, os animais que nós caçamos ou criamos especialmente para o abate tem a linguagem deles, embora nós compreendamos pouca coisa ou nada, esses animais tem “famílias”, sentem frio, sentem fome e sede, sentem dor. Principalmente isso, a dor, foi o que me fez pensar. Imagine você dentro de um cativeiro, engordando e engordando, sabendo que irá morrer, mas não há nada que se possa fazer para impedir isso. Se você ainda não entendeu, vai assistir “Fuga das Galinhas”. É a mesma coisa e a mensagem até as crianças são capazes de captar.


Fuga das Galinhas.
Imagem por 100 Grana.

Bom, como eu disse, essa foi a primeira vez que eu pensei sobre ser vegetariana. Quando conversei com meu marido sobre isso, ele tentou me dar uma luz pela Bíblia.


O que a Bíblia diz sobre vegetarianismo?

Por favor, não me apedrejem! Algumas igrejas condenam comer um tipo ou outro de carne, mas nenhuma delas proíbe o consumo dos animais em geral. Meu marido me mostrou o versículo 25 da Primeira Carta aos Coríntios, onde Paulo diz: “Comei de tudo que se vende no açougue, sem perguntar nada, por causa da consciência”. Isso acalmou meu coração por um bom tempo, até que assistindo Master Chef Brasil...


O que o Master Chef tem haver com isso?

Eu adoro cozinhar, então de novo, não me apedrejem! Eu sempre assisti Master Chef e o Júnior Master Chef (o dos EUA e o da Austrália, principalmente) e continuarei assistindo. Imaginem a minha euforia em assistir a versão brasileira? Eu não perdi um episódio! Então, numa bela noite eu chorei feito bebê, porque eles colocaram caranguejos vivos dentro de panelas de água fervendo. Eu sei, eu sou boba mesmo.


Master Chef Brasil.
Imagem por TV Foco.

E pior, um dia eu estava contando para o meu marido um dos episódios, e disse que eles preparam um tal de “Foi Gras” e meu marido diz que é fígado de ganso, engordado à força. Achei estranho e fui pesquisar essa história melhor e fiquei chocada. Pasmem vocês: os coitadinhos dos bichinhos são obrigados a ter um tubo enfiado pelo bico, através do pescoço até o estômago, onde são inseridas grandes quantidades de comida, que causam além de náuseas, dor e asfixia, uma doença que altera o tamanho do fígado desse animalzinho. O fígado dele fica dez vezes maior, e a maioria deles morre antes de estar “no ponto” do abate, sem contar todo o sofrimento físico que essas criaturinhas sofrem antes de serem degoladas. Achei simplesmente impossível que alguém, mesmo sabendo disso, compre e coma o fígado do coitado do ganso torturado!

Ok, já me acalmei. Mas se você não acredita em mim, pesquise no Google “Foi Gras como é feito” e você verá pessoas muito mais revoltadas do que eu.

Resumindo, nem preciso dizer que eu fiquei perturbada de novo com a ideia de comer carne. Aí fui falar com minha melhor amiga, Vih e ela não ajudou (ou vai ver que ajudou, depende do ponto de vista). A Vih é uma menina verde, zen e feliz. Tenho ela no meu coração, como uma irmã que eu não tive. E ela é vegetariana. Então, já viu, né? Me disse um monte de coisas sobre criação e abate de animais, coisas que eu já sabia, mas que preferia ignorar. Coisas que eu não vou entrar em detalhes, porque são polêmicas e muito generalistas, afinal, quem sabe, talvez não são todos os abatedouros que fazem crueldades, alguns devem respeitar essas vidas que vão embora para satisfazer nossas vontades gastronômicas, certo? Espero.


O fim da picada!

Bem, eu mesmo assim, depois de tudo o que eu vi, li e ouvi, ainda mantive meu hábitos.

Continuei comendo carne, hambúrguer, linguiça, frango assado e tudo mais. Passei meses ignorando minha consciência e segui em frente. Até que, em uma bela manhã de sol, eu abro o Yahoo para espiar as notícias e me deparo com isso: “Menina se desespera ao ver seu cão morto e assado em mercado no Vietnã”. Nem clique no link, clique somente se realmente duvidar do que estou dizendo. È cruel demais. Doeu demais. Chorei de novo, porque sou boba mesmo. Minha consciência está gritando e eu penso seriamente em ser vegetariana.

Não consigo mais comer meu hambúrguer, sem imaginar como foi que o boizinho foi abatido, se ele andou num pasto verdejante ou se foi criado numa cela com ração na frente. E se foi de um jeito ou de outro, que diferença faz se ele foi privado da vida? Eu penso que aqui no Brasil nós comemos porco, boi, jacaré, coelho, peixes, cobra, tartaruga (sim e são cozidas vivas!), frango e outras diversas aves, e até torturamos gansos! Então não podemos criticar os Vietnamitas de comerem cachorro, nem outros asiáticos de comerem insetos, são todos animais. Se eu choro por um cachorro, porque o coitado do frango não merece minha compaixão? Se eu choro pelo meu hamster, porque o pobre coelhinho também não pode viver? Sei lá. Me questiono, me pertubo, mas não saio de cima do muro.

No domingo, dia 5 de março, eu assisti no Fantástico, o quadro Mulheres 5.0, onde uma delas (uma atriz) disse que toda mudança na vida dela começou com um incomodo, aquele incomodo ruim que não te deixa em paz. E disse também que as mudanças de verdade, são lentas, como um transatlântico virando em alto mar: ele está a todo vapor, mas a virada é lenta. Acho que é bem isso: vou acabar por ser uma vegetariana de corpo e alma, mas a virada vai ser lenta, gradual. Vou começar hoje. Comendo menos carne, muito menos. Quem sabe esse não o primeiro passo para eu começar a viver uma vida mais verde?

 
Transatlântico.
Imagem por 1MS.net.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários, críticas e sugestões são sempre bem-vindos. Sempre com educação e sem violência, esse é um blog de paz ^.^

Leia mais sobre a nossa Política de Moderação de Comentários